Parafraseando Martin Luther King: Eu tive um sonho… Eu tive um sonho que morava em uma cidade que era cenário de uma grande concentração de bandas que tocavam Hard Rock e Heavy Metal. Essas bandas tinham características próprias, faziam grandes músicas, conseguiam gravar com qualidade, se auto financiavam, tocavam todo mês e ajudavam umas as outras, então eu acordei… Eu acordei e percebi que Porto Alegre e a sua região metropolitana contam com grandes bandas da Hard Rock e Heavy Metal, que possuem características próprias, fazem grandes músicas, a maioria consegue gravar com qualidade, mas quase nunca fazem shows, quando fazem, tocam para um público cada vez menor.
Eu conheço pelo menos quinze bandas da grande Porto Alegre que transitam entre o Rock And Roll, o Hard Rock e o Heavy Metal. Eu mesmo toco em uma dessas bandas, mas prefiro não citar nomes para que ninguém se sinta esquecido.
Então eu me pergunto: Por que quase não temos shows? Bom, existem algumas coisas que agravam essa situação. Depois de conversar com muitas pessoas do meio, assistir muitos shows, analisar a reação do público e estudar o assunto, consegui ligar alguns pontos.
Problemas das bandas:
- Muitos músicos que tocam nas bandas já abandonaram a “CENA”, eles seguem ensaiando e gravando, mas deixaram de lado a vontade de divulgar, de tocar e de assistir outras bandas.
- Outros músicos ainda parecem sentir vergonha de dizer que tocam em bandas dos estilos citados.
- Quando a banda consegue um show, não pode mais cometer o erro de abusar das bebidas e drogas antes de subir no palco. Por mais legal que isso possa ter sido no passado, hoje em dia, se uma pessoa saiu de sua casa para assistir o show e vocês estão bêbados e atravessam todas as músicas, essa pessoa nunca mais vai querer assistir outro show de sua banda.
- Não dar atenção para a forma de divulgar a banda também é um grande erro. A identidade visual, a inserção no cenário, a página oficial da banda, o apoio dos perfis dos músicos e a qualidade da mensagem que é passada para o público é muito importante.
- Músicos que aparecem no cenário só quando precisam do apoio. (Ex: Minha banda vai tocar na próxima semana, então vou aparecer no show de hoje para “apoiar” e marcar presença. Se minha banda não for tocar, nem saio do conforto do meu lar para ver shows dos outros.)
- Brigas de egos, inveja e estrelismo. (Ex 01: Vou falar mal daquela banda para ver se isso ajuda a minha. Ex 02: Minha banda é boa demais para tocar nesse bar. Ex 03: Minha banda é boa demais para tocar com essas outras bandas. Ex 04: O quê?!?!?! Fazer um show com aquele banda?!?! Nunca!!! Eu odeio o irmão da namorada do primo do baterista.)
Problemas do Público:
Chega a ser incontável o número de pessoas que dizem amar Hard & Metal. Elas compram camisetas, se reúnem pela cidade, tiram muitas fotos, pagam muito caro para ver bandas internacionais, pagam caro para assistir quatro bandas covers, não gostam de três dessas bandas, mas pagam mesmo assim porque vale à pena, é “Open Bar”!!
- Reclama que o Hard Rock e Metal Clássico estão morrendo, mas se uma banda faz um show 100% autoral, ignora totalmente.
- Aí você pode perguntar “Como eu vou curtir uma banda que eu não conheço?” Bom meu amigo, procure conhecer. Quase todas as bandas têm pelo menos uma música gravada disponível na internet.
- Pagar R$ 5,00 ou R$ 10,00 em um EP ou CD não vai te deixar mais pobre, é só uma cerveja a menos que você vai beber na balada.
- Pagar R$ 10,00 em um ingresso e prestar atenção na banda que está no palco são ações muito importantes. Se coloque no lugar dos músicos que passaram noites em claro compondo, gastaram muito dinheiro para gravar ou comprando instrumentos decentes, deixaram de lado coisas importantes para ensaiar e fazer o show. Tenha bom senso e valorize o concerto, a banda ralou muito para chegar até ali.
- Não adianta se maquiar, fazer uma selfie na frente do espelho e jurar amor pelo Kiss e pelo Mötley Crüe para ser um Rocker de verdade, existe muito mais que isso.
Público e bandas:
Enquanto vocês leem esse texto, os bares estão fechando, os produtores estão desistindo do estilo e as bandas estão agonizando. É fácil compreender porque o Sertanejo Universitário, o Funk e outros tipos fazem tanto sucesso. Existem bares e empresários investindo porque o público comparece. E o público comparece porque sabem que os músicos farão um bom show dentro que é proposto. Podemos não gostar, mas precisamos admitir que existe qualidade (para o estilo) nas performances, basta assistir para entender. Então as bandas de Hard & Metal precisam fazer um bom show e o público rocker precisa comparecer para fazer o negócio girar e recuperar todo o espaço perdido.
Por favor, não encarem todas essas palavras como um afronta. É justamente o contrário, acabo de apontar os grandes erros que eu percebi e quero a ajuda de todos para mudar a situação. Na nossa região, temos exemplos de bandas de Punk Rock e Hard Core que se uniram e estão fazendo acontecer. As bandas de Metal Extremo também já nos mostraram que é possível.
Os sertanejos são organizados, os funkeiros são organizados, os punks são organizados, até o crime é organizado, por que os Rockers não são organizados??!?!?
Como eu disse antes, existem pelo menos quinze bandas que transitam entre o Rock And Roll, o Hard Rock e o Heavy Metal, isso significa que existem um pouco mais de cinquenta músicos. Se acontecer uma união no formato de uma grande gangue, poderíamos montar um festival mensal com três bandas no palco por noite e doze bandas de público. Se cada músico levar a namorada(o) ou um amigo(a), são mais de cem pessoas por mês fazendo um “CENA” acontecer de verdade. Uma banda apoiando a outra, todos comprando ingressos e material de todos, todos divulgando sem guerra de egos. Os músicos e o público de Hard & Heavy precisam mostrar que realmente gostam dos estilos. Precisam comparecer quando vão e também quando não vão tocar.
Essa atitude faria a diferença e beneficiaria todas as bandas da nossa região. Nós podemos nos unir e mudar a situação atual, ou deixar tudo como está e assistir a morte lenta das bandas, dos bares, dos blogs, dos programas de rádio, das produtoras e de todo o espaço que um dia já tentou fazer alguma coisa pela nossa “CENA”. Aí quando tudo acabar, não vai adiantar choramingar. Precisamos assumir a nossa responsabilidade e admitir que temos o poder de mudar as coisas.
O leitor que entender e sentir que pode fazer parte dessa mudança de postura me procure para expor as suas ideias e juntos vamos fazer a diferença.
Estou à disposição.
06/2016
Mateus “Insano” Rister
Jornalista do Blog Insanity Records
Vocalista e baixista da banda Pétalas Insanas