No último sábado (14), aconteceu a segunda edição do Festival KTROCK, com cinco grandes nomes do Rock da nossa terra, além da reunião do TNT, uma das maiores bandas gaúchas da história, que estava inativa há mais de duas décadas. O evento aconteceu no auditório Araújo Vianna, com produção da KTO e Opinião Produtora.
Wander Wildner
A primeira apresentação ficou por conta de Wander Wildner, lendário vocalista original d’Os Replicantes, que mantém uma carreira solo consolidada desde os anos 1990. O show começou um pouco após às 16h, com “No Ritmo da Vida”, seguida pelo clássico “Bebendo Vinho”.
O cantor, acompanhado por Rika Barcellos (bateria), Clauber Scholles (baixo), Gabriel Guedes (guitarra) e Rust (guitarra) iniciou o show muito animado, andando de um lado para o outro do palco, gesticulando e chamando o público.
Infelizmente o Araújo Vianna ainda estava bem vazio neste momento. Talvez tenha sido pelo horário, mas o fato que o show começou com poucos lugares ocupados na plateia. Apesar disso, os presentes estavam curtindo e cantando junto o tempo todo.
Sem deixar isso atrapalhar seu show, Wander e banda seguem com o o cover de Secos & Molhados, “Sangue Latino”, “Rodando El Mundo”, “Ao Seu Lado” e o hino de Jupter Maçã, “Um Lugar do Caralho” e uma versão muito bonita de Killing Moon, do Echo & the Bunnymen, que Wander traduziu para “Lua que Mata”.
Então o cantor nos presenteou com um convidado super especial, Wander chama ao palco o lendário Jimi Joe. Merecidamente ovacionado, o músico plugou sua guitarra para acompanhar a banda em “Dani” (de sua autoria) e “Eu Não Consigo Ser Alegre O Tempo Inteiro”. Mesmo visivelmente debilitado, Jimi, do alto dos seus 69 anos, ainda é um grande guitarrista. É uma alegria ver Wander e Jimi, juntos novamente, em um dos palcos mais sagrados do Rio Grande do Sul.
O guitarrista se despede sob uma chuva da aplausos e o show segue com “Candy”, clássico de Iggy Pop. E na sequência o hino noventista “Jesus Voltará”, dos tempos de Wander e Sangue Sujo. Após ainda coube uma nova versão com Wander substituindo o protagonista da canção por Mick Jagger. Para finalizar, vem “Eu tenho uma Camiseta escrita Eu Te Amo” e “Canção Iluminada (Redemption Song)”.
Wander aparentava estar muito feliz. Sempre sorridente e inquieto, cantava, dançava, brincava com seus músicos e com o público. Seu set cheio de clássicos foi uma excelente abertura para a tarde-noite, que ainda traria muitas emoções.
DeFalla
O KTROCK estava recheado de nomes lendários para essa segunda edição. E uma das grandes surpresas quando divulgaram o line up do evento foi a volta do DeFalla, com sua formação clássica (Edu K, Castor, Flu e Biba), mais o acréscimo de Marcelo Fornazier, guitarrista da fase “Kingzo”. Desde a gravação do álbum Monstro, lançado em 2016, o quarteto clássico se reuniu pouquíssimas vezes, como no show Tributo ao Miranda, que deu o start para esse retorno. Desta forma, havia uma expectativa de ser como seria o show dessa formação.
A apresentação começa com “Alguma Coisa”, “Ferida” e “Sodomia”, trinca presente no primeiro álbum “Papaparty – 1987”. Castor e Fornazier nas guitarras, Flu no baixo e Biba na bateria são, com toda certeza, os melhores músicos para tocarem essas músicas. Além de participarem ativamente das composições e arranjos, nenhuma outra formação poderia incorporar tão bem o espirito dessas canções. E Edu K é a anarquia em pessoa. Nunca se sabe o que esperar do cantor, tanto visualmente, quanto musicalmente. Com um cabelo rosa, assento de privada como colar e usando luva de diabo em uma das mãos, Edu é guiado pelo caos.
Na próxima, uma versão para “Como Vovó já dizia”, o cantor consegue misturar Raul Seixas com Alice In Chains, algo que somente Edu/DeFalla (e talvez o próprio Raul, se estivesse vivo nos tempos do Grunge), conseguem fazer soar orgânico.
O show continua com o clássico “Sobre Amanhã”, seguida por “I Have to Sing a Song”, “Melô do Rusty James”, “Work of Jo” até chegar em “Repelente”, outra música que atravessou a barreira do tempo.
A banda convida para subir ao palco, o lendário saxofonista King Jim (Garotos da Rua). Com ele chega a hora do hino “Its Fuckin Borin to Death”. O público, já um pouco maior, reconhece o momento histórico. Ainda mais quando Edu desce do palco para cantar e cumprimentar os fãs da primeira fila. O vocalista ainda chama Castor para descer também, mas o guitarrista explica que não iria conseguir descer e seguir tocando.
King Jim ainda fica para mais um clássico, “Não Me Mande Flores” e logo depois se despede. Para finalizar, um hit “diferente”, que pensei não ver essa formação executando. Estou falando de “Popozuda Rock N’ Roll”, faixa das tempos de Funk Miami Bass do início dos anos 2000. Essa foi a única música do show que não faz parte dos dois primeiros álbuns da banda.
Confesso que, em alguns momentos, o show deu uma quebrada, talvez por trazer um pouco daquela aura caótica de jam/ensaio. Normal para uma banda que está voltando às atividades depois de anos. Mas logo teremos outra oportunidade, pois a banda já tem outro show marcada para Porto Alegre, em novembro.
Rosa Tattooada
A terceira banda da noite foi o ícone do Hard Rock Nacional. A Rosa Tattooada, renovada com a entrada do novo baterista Matt Thofehrn, trouxe um show emocionante e repleto de hits dos seus 36 anos de carreira.
“Rendez-Vous” foi a escolhida para abrir a noite, seguida por “Fora de Mim, Dentro de Você” e o hit “Um Milhão de Flores”. É uma sequência de riffs para ninguém colocar defeito.
Nesse show, o Araújo Vianna já estava bem mais cheio. Não totalmente, o que é bem decepcionante tamanho o peso dos nomes envolvidos e a publicidade realizada.
Mas voltando ao espetáculo, a próxima é “Voando Baixo”, trazendo aquela pegada clássica da Rosa Tattooada do início dos anos 1990. Ainda nesse clima chega a vez de mais um grande hit, “Tardes de Outono”, cantada em coro pelos fãs. Logo em seguida vem “Na Estrada”, com aquele espirito Easy Rider” falando sobre liberdade de viver a vida sobre duas (ou quatro) rodas.
O power trio, Jacques Maciel (voz e guitarra), Valdi Dalla Rosa (baixo e voz) e o já citado baterista, Matt, dominam totalmente o palco do Araújo Vianna. Um show totalmente eletrizante que segue com as músicas “Diamante Interestelar”, a soturna e sensual “Dance em Mim” e a porrada “Carburador”. Nessa última, Edu K invade o palco para reverenciar Jacques e sua gangue.
Já muito próximo do fim, o vocalista pede licença para cantar os parabéns para sua esposa, que estava na plateia e comemorando aniversário. Logo, todos se unem ao casal.
Ainda tem tempo para dois dos maiores clássicos já produzidos pelo Rock Gaúcho, “Sob Um Céu de Blues”, hino absoluto d’Os Cascavelletes, e “O Inferno Vai Ter Que Esperar”. A banda e o público cantam juntos, do início ao fim. E assim se encerra esse grande show, de uma das maiores bandas já nascidas nesse país.
Graforréia Xilarmônica
Chega a vez de mais um power trio clássico do Rock feito nos pampas, a Graforréia Xilarmônica. Não é sempre que temos a oportunidade de assistir Frank Jorge (voz e baixo), Carlo Pianta (guitarra e voz) e Alexandre Birck (bateria), juntos. Com o passar dos anos, isso foi ficando cada vez mais raro. Os fãs sabem disso e pareciam estar ansiosos pelo início da apresentação.
A banda começa com “Patê” e “Literatura Brasileira”, já dando o tom do que seria o show, uma mistura de Jovem Guarda, anarquia e influências de música gaúcha. Isso é exatamente o que o público estava querendo.
As próximas são “Bagaceiro Chinelão”, “Você Foi Embora”, “Nunca Diga”, “Empregada” e “Minha Picardia”, quase seguindo na ordem o álbum “Coisa de Louco II”, lançada em 1995, pelo Selo Banguela.
Falando neste disco, um nova prensagem em vinil foi lançada recentemente pelo Monstro Disco, em tiragem limitada, que já está quase esgotada. Uma excelente pedida para os fãs desse trabalho que marcou e serviu de referência para tantas bandas e músicos gaúchos e do Brasil também.
Ainda do álbum já citado, são tocadas “Twist”, “Benga Velha Companheira” e mais um dos grandes hinos do Rock Gaúcho, “Amigo Punk”. Talvez seja essa a música que mais sintetize o que chamamos de Rock Gaúcho, já que mistura em seu ritmo e letra, quase tudo que faz parte do espírito do gaúcho rocker.
Do álbum “Chapinhas de Ouro, de 1996, vem as próximas “Meus Dois Amigos”, “Baby” e o clássico “Eu”. Do “Álbum Homem Branco” vem a “Chapolin” e em seguida “Eu Digo 7” e outro hit do grupo “Colégio Interno”.
Já perto do fim do show ainda temos tempo para “Benga Minueto”, “Se Você Não Quis”, o hino “Com Amor, Muito Carinho” e, para finalizar “Rancho”.
A Graforréia fez um show longo, divertido, com suas músicas engraçadas e irônicas e vídeos completamente aleatórios rodando no telão do fundo do palco. Quem esperava pelo show do trio, com certeza saiu feliz pelo espetáculo que recebeu.
Carlinhos Carneiro
Com a tour que comemora os vinte e cinco anos de carreira do cantor e da Bidê ou Balde, Carlinhos Carneiro subiu ao palco do Araújo Vianna já depois das 21h. Acompanhado por um time de peso, chamado “Os Excelentes Animais”, composto por Pedro Petracco (guitarra), Maurício Chaise (guitarra), Guilherme Schwertner (bateria), Lucas Juswiak (baixo), Fu_k The Zeitgeist (teclados), Iandra Cattani (voz), Gi Deneuve (voz), além de convidados especiais, fizeram uma celebração emocionante do legado da Bidê.
As contagiantes “É Preciso Dar Vazão Aos Sentimentos” e “Microondas” abrem a festa com astral lá em cima. O cantor não para quieto, cantando e agitando os chocalhos que pegou emprestado de Hanna, sua filha recém nascida.
A noite segue com a melancólica “Gerson”, a alto estral “Matelassê” e “Buddy holly”. Mostrando a força dessas faixas, mesmo com o passar dos anos, são cantadas quase que na íntegra pelo público do Araújo Vianna.
“Tudo Bem”, mais uma do álbum de estreia da Bidê “Se sexo é o que importa, só o rock é sobre amor!”, é a próxima, com “Cores Bonitas” logo na sequência. A banda segue com “Mesma Cidade”, música recém regravada por Carlinhos e o Excelentes Animais, para marcar a reconquista de Porto Alegre no pós enchente e também para angariar fundos para reconstrução do Estúdio Legato, fortemente atingido pela catástrofe.
Então chega a hora de dois clássicos que marcaram as FMs gaúchas dos anos 2000, “Bromélias”, com participação especial de Guri Assis Brasil (Pública) e “Melissa” com Rodrigo Pilla e invasão de Frank Jorge. As músicas são cantadas por todos que estavam presentes no Araújo Vianna.
Pilla fica para encerrar o show com a banda com a trinca “Me Deixa Desafinar”, a intimista “Fazer Tudo A Pé” e mais um hino, “Mesmo que Mude”.
Carlinhos estende a última música se jogando do palco, pulando a grade e cantando o refrão no meio do público, que delira com a atitude do cantor. Ele anda por vários setores da plateia, passando por cima das cadeiras, abraça os fãs, os familiares presentes, volta para a grade que separa o palco do público e canta e refrão pela última vez, agradecendo e se despendido dos em grande estilo. Realmente um final apoteótico para uma apresentação impecável.
SURPRESA: TNT voltou!!!
Desde o início do festival, o mestre de cerimônias Lele Bortolassi avisava que quem ficasse até o fim do festival teria uma grata surpresa. Antes do começo da cada show, o comunicador voltava e dava novas pistas sobre essa atração misteriosa. Quem pagou para ver não se arrependeu, pois se tratava da reunião do lendária banda TNT!
Mais de duas décadas desde a sua última apresentação, estavam no palco Charles Master (voz e baixo), Tchê Gomes (guitarra e voz), Marcio Petracco (guitarra e voz), Fábio Ly (bateria), Paul Arcari (bateria) e João Maldonado (teclado) para emoção dos fãs que ficaram até o fim.
O sexteto aparentava estar se divertindo, felizes em estarem juntos no palco novamente. Eles tocam “Não Sei” e “Cachorro Louco”, com apoio dos fãs que cantam em uníssono os dois clássicos.
É pouco e todos pedem mais uma. Mas é só um aperitivo. A banda avisa que fará um show completo nesse mesmo local, no dia 19 de dezembro, marcando de forma definitiva o retorno de um dos maiores grupos do Rock Gaúcho.
o KTROCK 2 foi um grande evento, emocionante e que merecia ter recebido mais público. É preciso estar atento e, sempre que possível, prestigiar eventos como esse, que valorizam o Rock feito no estado. Para que sejam financeiramente viáveis para os produtores que apostam na nossa cultura, e que aconteçam novas edições e a perpetuação do formato.
Fotos:
Mary Up Fotos