No último domingo (06), aconteceu a primeira edição em terras gaúchas do Garotos Podres Rock Festival. O evento ocorreu no Bar Opinião, com produção da Pisca Produtora e Opinião, e contou com as bandas Punkzilla, Leviaethan e a dona da noite, Garotos Podres.
A noite começou com a excelente banda Punkzilla, mas infelizmente não chegamos a tempo para ver o grupo no palco. O evento aconteceu no dia das eleições municipais e a apuração apertada em Porto Alegre atrasou nossa chegada.
A segunda banda da noite foi a tradicional Leviaethan, com o show de lançamento do seu novo disco, “D-Evil in Me”. O power trio formado por Flávio Soares (vocal e baixo), Dênis Black Stone (guitarra) e Ricardo “Ratão” (bateria) mostraram todo o poder do seu Thrash Metal. Nas últimas músicas a banda ainda contou com a participação especial do guitarrista e produtor Renato Osório, que abrilhantou ainda mais a apresentação dessa instituição do Metal Gaúcho.
Muito próximo das 21h, chega a hora dos donos da noite subirem ao palco do Bar Opinião. O vocalista Mao, o guitarrista Alberto “Deedy” Rinaldi, o baixista Alexandre Saldanha e o baterista Negralha começam com o clássico “Garoto Podre”, seguida por “Oi, Tudo Bem?” e “Vomitaram no Trem”.
O público que enchia a pista do Bar Opinião estava enlouquecido com o começo arrasa quarteirão do show. A energia que passa da banda para os fãs é contagiante. E o clima fica ainda melhor com a próxima, “Expulsos do Bar” do álbum “Com a Corda Toda”, de 1997.
A noite segue com uma das primeiras músicas da banda a ser censuradas pelo extinto Departamento de Censura da Polícia Federal, “Johnny”, e logo na sequência os hinos “Rock de Subúrbio” e “Subúrbio Operário”. E os anos passam e nós percebemos que essas canções são atemporais. Enquanto houver jovens pobres com raiva e acesso a instrumentos musicais, essas músicas vão fazer sentido.
Através de “Avante Camarada”, a banda então presta homenagem ao compositor e poeta português, Luís Cília, fundamental para a luta portuguesa contra a ditadura no país. Antes do último refrão, Mao explica que todos da banda estavam com os corações apertados, pois estavam em Porto Alegre, sem poder votar em suas cidades. Estavam com medo do candidato Guilherme Boulos ficar de fora da disputa pela prefeitura de São Paulo, mas que conseguiu se manter na disputa. O guitarrista Deedy ressalta a importância de seguir resistindo contra fascismo, aqui em Porto Alegre, com a candidata Maria do Rosário, e em São Paulo, com Boulos. Aí sim, a banda convida todos os presentes para, com o punho erguido, cantar juntos o último refrão. Ninguém fica de fora e apoiam o discurso da banda.
As homenagens seguem com a versão Ska de “Antifa Hooligans” dos Los Fastidios, o hino da classe operária “A Internacional” e “Grandôla, Vila Morena”, outra música que ajudou na queda da ditadura portuguesa, e “Aos Fuzilados da C.S.N.”, que homenageia os três mortos no Massacre de Volta Redonda, ocorrido durante a greve de trabalhadores da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em 1988.
Da época em que os Garotos Podres precisaram usar o nome “O Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos” vem “Repressão Policial (Instrumento do Capital)” e logo após vem o clássico da banda Basca, Eskorbuto, “Mucha policía, poca diversión”. Ainda tem espaço para “Puta Vomitada”, original da banda Grinders.
Enquanto a público aplaude e saúda a banda, Mao recebe um colar de corrente com um pingente enorme de letra “M”, óculos e uma arminha de brinquedo, ao melhor estilo rapper. Ele brinca que recebeu de presentes as joias durante uma viagem para a Dubai. Então a banda começa a música “Mancha”, com seu teor pré adolescente, mas que ainda segue como uma das mais escutadas da discografia do grupo.
Na próxima, o mega clássico “Anarquia Oi!”, com Edu “Pisca” no baixo. Amigo de longa data, Pisca é o responsável por trazer a banda para o sul do Brasil nos últimos anos.
Mao deixa o palco e volta com camisa preta e peruca, sátira do ditador da Coréia do Norte, Kim Jong-un, para interpretar a música “Kim Jonguinho”.
E o show vai se aproximando do fim, mas ainda dá tempo para mais clássicos dos Garotos Podres. A irônica “Verme” do álbum “Canções para Ninar”, de 1993, abre caminho para o maior clássico da banda, “Papai Noel, Velho Batuta/Filho da Puta”. A essa altura o público cantava junto do início ao fim da música. E para encerrar a noite, “Vou Fazer Cocô” é a faixa escolhida.
Por mais que ninguém quisesse ir embora, o show acaba, mas não antes da já tradicional foto do fundo do palco pegando a banda com a plateia.
Mais uma vez, os Garotos Podres entregam à Porto Alegre um show incendiário, cheio de fúria, revolta, resistência e uma pitada de humor. Mao, Deddy, Alexandre e Negralha pareciam estar muito a vontade e se divertindo em cima do palco. Fizeram jus ao nome que, com certeza, é um dos maiores do Punk Rock nacional. Da mesma forma, os fãs presentes no Bar Opinião voltaram para a casa satisfeitos, após um show cheio de clássicos e com muita energia.
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Mary Up Fotos