Neste domingo (06/08) as lendárias bandas Ratos de Porão e Os Replicantes subiram ao palco do Bar Opinião, em Porto Alegre. O evento foi uma realização Opinião e Pisca Produtora. Com 42 anos de carreira, o Ratos está em tour divulgando seus mais recentes lançamentos, o álbum “Necropolítica – 2022” e o EP “Isentön Päunocü – 2023”.
Depois de um show memorável d’Os Replicantes, o Ratos de Porão inicia seus trabalhos passando um pouco das 20h30. “Alerta Antifascista” e “Aglomeração” já mostram o tom da noite, de forma rápida e brutal. Mesmo sendo músicas mais recentes, o fluxo de energia que toma conta do Bar Opinião é algo que não se vê em qualquer show.
Chega à vez de três clássicos do álbum “Brasil -1989”, “Amazônia Nunca Mais”, “Farsa Nacionalista” e “Lei do Silêncio” para delírio de todos. Vale ressaltar que essas músicas tem quase 35 anos e ainda (infelizmente para nós) são tão atuais.
A banda está em total sintonia, com formação estabilizada há quase 20 anos, desde a entrada do baixista Juninho, podemos dizer que estão nas pontas dos cascos. João Gordo é um showman, canta e comanda o espetáculo com carisma absurdo. Alterna vocais gulturais, graves e rasgados, com caras e caretas expondo toda a raiva e agressividade que suas letras pedem. Jão é um guitarrista “old school”, sempre com riffs certeiros e solos rápidos, sempre em movimento, sem tempo para descanso. Assim como Jão, Boka mantém a velocidade de BPM sempre nas alturas. Com estilo muito peculiar de tocar, com batidas secas e constantes, funciona como um motor extremamente preciso. E Juninho é outro show a parte, é daquelas pessoas que você saca de cara que faz o que gosta. Toca muito, pula, agita o público, berra os backings vocals e não fica parado por nada.
A noite continua com “Ignorância” e “Morte ao Rei”, seguida pela nova “Necropolítica”. Essa música dá nome ao álbum que conseguiu sintetizar praticamente tudo que vivemos no Brasil dos últimos anos. A próxima é o primeiro hino da banda, “Crucificados pelo Sistema” e a essa altura é quase impossível transitar pela pista do Opinião sem ser sugado para a roda punk mais brutal que presenciei nos últimos tempos. Brutal, agressiva, mas não nos termos ruins dessas palavras. Ninguém está ali para se machucar ou machucar outras pessoas, é simplesmente um descarrego de energia em massa. Se alguém cai, outros o ajudam a levantar, se alguém perde relógio ou celular, quem acha logo levanta o acessório até que o dono veja e vá buscar.
“Descance em Paz” e “Vivendo Cada Dia Mais Sujo e Agressivo” são mais dois clássicos tocados pela banda. Então João Gordo avisa que prestarão tributo ao ícone finlandês do Punk / Harcore,Terveet Kädet. “Fei e Burro” e “Rosca Solta” entram no show, essas e mais oito músicas são versões em português presentes no EP recém lançado “Isentön Päunocü”.
“Guerrear”, “Políticos em Nome do Povo”, “Caos” e “Realidades da Guerra” são executadas na velocidade da luz. E Gordo ressalta a importância da renovação do público do Ratos de Porão. Em uma interação com a plateia, fica constatado que muitos presentes estavam assistindo o grupo pela primeira vez. “Isso é muito importante para nós” afirma João Gordo.
Diretamente do “Carniceria Tropical – 1997” vem a porrada “Difícil de Entender” e do “Onisciente coletivo – 2002” a profética “Engrenagem”. As próximas são “Toma Troxa” e mais um hino “Expresso da Escravidão”.
O show está chegando ao fim, João Gordo senta no praticável de palco, em frente a bateria e brinca que “o tio ta cansando”. Apesar de todo o carisma, a mobilidade do vocalista, que sofre com problemas no joelho, já fica mais estática com o passar do show.
O público está sedento por mais a banda atende com “Conflito Violento”, seguido por uma versão alternativa / bossa nova (?) do clássico “Aids, Pop, Repressão”. Mas calma, é só um prelúdio. A versão que a gente ama vem na sequência. Chega a hora da música favorita deste que vos escreve, “Beber até Morrer” e seu riff sensacional!
O espetáculo se encerra com “Paranóia Nuclear” e “Crise Geral”. Todos sabem a noite histórica que presenciaram! Ratos de Porão, após quatro décadas ainda seguem lançando discos que retratam fielmente a época de sua concepção, além de permanecer atuais por gerações. Ao vivo ainda é mais impressionante! Temos sorte de assistirmos esses senhores destruírem tudo em cima do palco.
Fotos:
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Texto:
Mateus Rister
Contatos:
Ratos de Porão Oficial