No dia em que o povo gaúcho celebra a Revolução Farroupilha, o auditório Araújo Vianna recebeu o maior festival do Rock Gaúcho dos últimos anos, o KTRock. Uma realização da KTO com produção da Opinião Produtora, o evento contou com cinco bandas que fazem parte da história musical do estado, Tenente Cascavel, Vera Loca, Acústicos e Valvulados, Comunidade Nin-Jitsu e Ultramen.
TENENTE CASCAVEL
A festa começou por volta das 16h, quando a banda Tenente Cascavel (que reúne músicos das lendárias TNT e Cascavelletes) inicia seu show. A formação conta com Luis Henrique “Tchê” Gomes (guitarra e vocal), Márcio Petracco (guitarra e vocal), Fabio Ly (bateria), Paulo Arcari (bateria, violão e vocais) e o aniversariante do dia, Frank Jorge (baixo e vocal).
O show começa com clássico da TNT, “Não Sei”, cantada por Tchê e com a dupla de bateristas, Fabio e Paulo tocando juntos. Para a seguinte, “Identidade Zero”, Paulo deixa a bateria, pega o violão e também assume os vocais principais, e diga-se de passagem, a música caiu muito bem em sua voz. O músico ainda canta “Gata Maluca”, entre elas Tchê canta “Nunca Mais Voltar”.
A essa altura, o Araújo Vianna já estava lotado, o que mostra que o Rock Gaúcho segue firme e forte, com público fiel, que estava precisando de um evento como esse.
Voltando ao show, a banda apresenta a primeira música dos Cascavelletes, “Moto”, presente no clássico álbum “Rock’a’aula”, de 1989. Desta vez, foi Marcio Petracco quem assumiu o vocal principal. “Estou na Mão”, cantado por Tchê é a próxima, seguida por “Ana Banana”, que volta a ser executada com duas baterias. O show segue com “Quem Procura Acha”, “Carro Roubado”, “Desse Jeito” e “Morte Por Tesão”, em que Frank Jorge canta. “O Mundo é Maior que teu Quarto” e “Sob um Céu de Blues” encerram a apresentação. É emocionante assistir um público em peso cantando junto essa canção. Isso demonstra a força que a música tem, mesmo após tantos anos de seu lançamento. Como dizem, clássicos não têm idade. Foi só o primeiro show do dia, mas com certeza já valeu o ingresso.
VERA LOCA
A próxima banda do KTRock é a Vera Loca, que já está completando 22 anos de carreira. Realmente o tempo passou muito rápido, parece que foi ontem que escutávamos “Maria Lúcia” nas rádios gaúchas.
A banda está em ótima forma. Isso é provado na primeira música do show, “Graffiti”, seguida por “Velocidade” e o hit “Palácio dos Enfeites”, que o público canta junto. A noite segue com “Parece que foi ontem” e a forte “Cuidado Ana”.
É preciso falar que visualmente, é um show muito bonito. O telão traz imagens da banda, trechos de clipes, que junto com a iluminação completam o espetáculo.
Chega a hora da, talvez, música mais conhecida do grupo, a já clássica “Borracho y loco”, do disco “Vera Loca III”, de 2008. E lá do primeiro álbum, vem “Meu Toca Discos se Matou”. A próxima é “Preto e Branco”, que precede a já citada “Maria Lúcia”.
O show está chegando ao fim, e a banda toca “Aos Meus Amigos”, em que o vocalista Fabrício Beck aproveita para organizar uma grande ola, e a plateia responde entusiasmada. O grupo encerra com o rock “Suadinha”, jogando o astral lá para cima.
ACÚSTICOS & VALVULADOS
Chega a vez do show dos Acústicos & Valvulados e mais uma vez o Araújo Vianna volta a vibrar. O Quinteto apresenta sua nova turnê, intitulada “Fiesta Forever”, com os maiores sucessos da banda. Já iniciam com “Suspenso no Espaço”, seguida por “O Dia D é Hoje”, dois clássicos.
Vale destacar que o vocalista Rafael Malenotti é um grande frontman. Com sua voz potente e seu carisma, ele sabe como mexer com o público e não consegue ficar parado no palco. o guitarrista Alexandre Móica também não fica para trás, com seu forma de tocar a lá Keith Richards, cheio de trejeitos e caretas, com riffs certeiros e ótimos solos.
A noite segue com “O Truque já Aconteceu”, “Bubblegum” e os mega hits “Quem Me Dera” e “O Nome Dessa Rua”, músicas históricas para os Acústicos & Valvulados e para o Rock Gaúcho. Malenotti informa que por “ordens médicas” precisa se ausentar do palco por um tempo e Móica assume os vocais em “Não Vou Dessitir”, faixa do álbum “Meio Doido e Vagabundo – O Fino do Rock Mendigo”, de 2014, em que o guitarrista canta.
Chegam a vez das baladas “Quintal” e “Milésima Canção de Amor”, em que o público ilumina o Araújo Vianna com as lanternas de celulares. Isso nos dá a deixa para falar do belíssimo trabalho de iluminação e das imagens do telão. Revisita toda a história da banda através de fotos, vídeos e utilização de vários logos que a banda usou, multicoloridos. Realmente esse turnê é um prato cheio para os fãs.
Voltando ao show em si, Malenotti chama ao palco um convidado especial, o vocalista Carlinhos Carneiro, hoje em diversos projetos, mas que passou décadas a frente da Bidê ou Balde. A banda começa a tocar “Mesmo que Mude”, com Carlinhos fazendo um show a parte, enquanto Rafael Malenotti completamente emocionado tenta (sem sucesso) segurar as lágrimas. Aí a emoção toma conta e os músicos chamam duas crianças para o palco, um menino e uma menina, talvez filhos de um dos integrantes, que dividem o microfone com Malenotti nos refrãos.
Carlinhos se despede ovacionado pela plateia e a banda começa mais um clássico, a música “Remédio”. A essa altura todos estavam extasiados com o espetáculo. Mas o show preciso chegar ao fim, e as escolhidas para fechar são “Fim de tarde com Você” e “Até a hora de Parar”. Encerrando com chave de ouro um baita show de uma baita banda.
COMUNIDADE NIN-JITSU
Essa altura já passavam das 20 horas, mas ninguém arredava o pé do Araújo Vianna, pois ainda faltam dois grandes nomes da música gaúcha. E a primeira é a Comunidade Nin-Jitsu que começa seu show com todo o gás. “Não Aguento Mais” é a escolhida para abrir o show. Ela é seguida pelo “Melô do Analfabeto” e pela “Ejaculação Precoce”. Até aqui já podemos observar que a banda não veio para brincar, soltando três hits na sequência, que deixam o público no clima de festa total.
Então a banda toca “Vai Popozuda / Popuzuda Rock N Roll”, clássico do mestre Edu K, e eu podia jurar que ele aparecia no palco para cantar junto, mas não rolou. Então Mano Changes avisa que a próxima é a música que fez parte do verões de ouro da Rádio Atlântida, “Toda Molhada”, e todos cantam junto. Ela é seguida pela “Rap do Trago (Pare Bebum), um dos primeiros hits do grupo. “Detetive”, a música que colocou a Comunidade no mapa, chega com tudo, e na sequência vem “Arrastão do Amor”.
Como Lelê Bortholacci definiu ao apresentar a banda, a “Comunidade Nin-Jitsu é a mistura do Funk Carioca com as guitarras do AC DC”. E realmente eu não consigo pensar em uma definição melhor. Fredi “Chernobyl” Endres se desdobra entra riffs poderosos, samples e batidas funk e backing vocal. O cara é um show a parte. Nando Endres toca baixo demais, agita o tempo todo e, junto com Pancho Santos, fazem a cozinha da banda funcionar como um relógio. E sobre Mano Changes não é preciso nem falar né, o cara canta Rock, Rap, Funk, Reggae, o que quiser sempre imprimindo sua personalidade em cada música.
Chega a vez de “Chuva nas Calcinhas”, do álbum “Atividade na Laje”, de 2008. E na sequência uma homenagem ao saudoso Chorão, com “Tudo que Ela gosta de Escutar”. A próxima é outro grande hit, “Cowboy” e então vem um pot-pourri misturando “Amigo Punk”, “Rap do Silva” e “Eu só quero é ser feliz”. Todas abrindo caminho para as derradeiras “Aperitivado”, “Merda de Bar” e o hino “Ah! Eu to sem Erva”. Ainda dá tempo de desfilar riffs clássicos do Black Sabbath, AC DC entre outros, até chegar em “Give It Away” do Red Hot Chili Peppers, que encerrar esse show / festa em grande estilo.
ULTRAMEN
A banda Ultramen foi a escolhida para fechar a noite desse festival histórico. E já começam com tudo, com “Esse É O Meu Compromisso”, seguida por “Erga sua Mãos” e “Peleia”. É impressionante a fluxo de energia da banda. Dá para perceber que os músicos estavam ali com vontade, curtindo cada momento. Tonho Crocco é um grande vocalista, canta demais, versátil entre rimas rápidas ou notas mais alongadas. E a banda é uma big band, harmonizando os instrumentos base como bateria, guitarra e baixo, com a percussão, teclados e scratchs do DJ Anderson.
A impressão que nos passa é que, mesmo com tantas décadas de carreira, a Ultramen é uma reunião de amigos fazendo um som só por diversão. Tem aquela vibe de curtir cada música, de tocar por prazer. Não me entenda mal, não que as outras bandas não passem esse mesmo espírito, mas pude acompanhar o show da Ultramen bem de perto do palco e fiquei observando os músicos durante o show todo, e a galera estava curtindo demais estar ali, como se fosse aqueles primeiros ensaios de bandas que percebem que a “coisa toda” vai rolar. É muito legal perceber isso em bandas com tantos anos de carreira.
A próxima é “Grama Verde”, seguida pela clássica “Tubarãozinho” com o refrão robótico cantado pelo tecladista Leonardo Boff. O show segue com já classica “De Canto e Sossegado” e mais um mega hit “Dívida”, que ficou conhecida no resto do Brasil pelo “Acústico MTV Bandas Gaúchas” que teve a participação especial do Falcão (O Rappa).
“Preserve” mantém o nível no alto e na finaleira ainda temos três hinos: “Bico de Luz”, “General” e “Santo Forte”. A banda agradece, se despede e encerra o primeiro KTRock com a certeza do dever cumprido.
Foi um grande festival, com todos os ingressos vendidos, e a promessa de que a edição do ano que vem já está confirmada. E o mais legal, toda a renda será destinada ao auxílio dos moradores do Vale do Taquari, que vem sofrendo tanto devido as enchentes que assolam a região. Isso realmente é algo muito especial e merece toda a reverencia.
O KTRock foi bem a cara do Rock Gaúcho, excelentes bandas com diversos estilos musicais que entram embaixo desse guarda-chuva. Vimos Rock And Roll Clássico, Samba Rock, Rap, Funk Rock, influências do gauchesco ao Rockabilly, tudo em perfeita harmonia. Que seja o primeiro de muitos e que todos os amantes da boa música tenham a oportunidade de assistir esses shows em todas os cantos do Rio Grande do Sul.
Fotos:
Mary Up’ Fotos