Um dos artistas mais geniais do música brasileira, Ney Matogrosso, apresentou neste sábado (29) seu show “Bloco na Rua”, para o auditório Araújo Vianna lotado, em Porto Alegre. O evento foi uma realização da Opus Entretenimento e Agência Cigana.
Por volta das 21h10, Ney sobe ao palco e é agraciado por uma chuva de palmas. “Eu quero é botar meu bloco na rua”, inspiração para nome do álbum e da tournê, é a primeira. Em seguida vem “Jardins da Babilônia”, em uma bela versão, muito animada, com ênfase para os metais de Aquiles Moraes (trompete) e Everson Moraes (trombone).
É preciso destacar o figurino de Ney, assinado pelo estilista Lino Villaventura. O artista entra em cena com um macacão dourado, pés descalços e a cabeça completamente coberta, abrindo a parte da frente e mostrando seu rosto em uma performance sensacional, impactando o público desde o começo do show. O palco sem amplificadores, ocupado apenas pelos músicos e seus instrumentos, pode parecer minimalista a princípio, mas a iluminação e as imagens do telão, preenchem o que é necessário, harmonizando com as danças e os trejeitos do cantor.
A apresentação segue com a densa “O Beco” e a provocante “Já Sei”. A próxima é o clássico “Pavão Mysteriozo”, que cai como uma luva na voz de Ney. A banda composta por Sacha Amback (teclado), Marcos Suzano (bateria), Felipe Roseno (percussão), Dunga (baixo), Mauricio Negão (guitarra), e os já citados Aquiles e Everson, acertam em cheio nos arranjos. Deixam as músicas no ponto certo para o cantor brilhar.
Em “Tua Cantiga”, Ney canta sentado em uma cadeira alta, no meio do palco, provando que a performance vai além de movimentos mais intensos. Ocasionalmente, a música pede uma intensidade diferente, somente a voz e olhares fortes, com movimentos leves, já falam o suficiente. O que combina perfeitamente com o canção seguinte, “A Maçã”, clássico de Raul Seixas que ganha uma linda releitura nesse espetáculo.
Ovacionando pelo público, o cantor segue emocionando com a belíssima “Yolanda”. E aqui precisando destacar a voz de Ney Matogrosso. No auge dos seus 82 anos, o artista está em plena forma.
Vemos alguns tipos de cantores, os que se esforçam muito para alcançar as notas e nós percebemos que eles realmente estão dando o máximo para isso. Existem os que alcançam com mais facilidade, mas demonstram um esforço violento, apenas como exibição ou, como falamos aqui no sul, por “balaca”. Isso pode até ser danoso a longo prazo, como vemos acontecer com muitos. Mas existem os gênios, que cantam como se estivessem flutuando, como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Ver Ney cantar ao vivo, é como ver Lionel Messi ou Ronaldinho Gaúcho jogar futebol. Parece tão natural que nos dá a impressão que é extremamente fácil fazer o que fazem. Mas não é. É um talento nato. Lógico, é preciso muito “treino” para manter e evoluir esse talento, mas percebemos logo quando vemos alguém que nasceu para isso.
“Postal do Amor”, seguida por “Ponta do Lápis”, mantém a qualidade do show nas alturas. Enquanto “Corista de Rock” traz aquela aura anos 1970 para o auditório Araújo Vianna, com a plateia de pé, dançando e cantando. A próxima “Já Que Tem Que” vem cheia e swing e preserva o clima de festa no ar.
Através de “O Último Dia”, Ney nos questiona “…o que você faria você faria se só te restasse um dia?” e encaminha o fim desse ato com “Inominável”, seguida pela versão Rock do hino “Sangue Latino”. É óbvio que ninguém iria embora ainda, todos queriam mais. O cantor se antecipa e avisa que oficialmente o show se encerra ali, mas que pedia apenas um tempo de beber água e já voltava.
Instantes depois, o bis começa com “Como 2 e 2”, com luz baixa e apenas voz e teclado. Chega a pegar o público de surpresa pela velocidade do retorno. A próxima é linda “Poema”, que faz o clima intimista crescer pouco a pouco até ser finalizada com aplausos entusiasmados dos presentes.
Esse já seria o fim perfeito para a noite, mas ainda fica melhor. O samba “Ex-Amor” toma conta do local, fazendo todos cantarem jutos de Ney. Então para fechar o show, agora sim para valer, é a vez do clássico “Homem com H”. A essa altura todos assistem de pé, cantam, dançam e se divertem, fazendo justiça ao espetáculo que acontece no palco.
No fim, o público ainda pede mais, pois ninguém que ir embora. Mas tudo precisa ter um fim e Ney reúne os músicos para se despedirem.
Que sorte temos em ver esse espetáculo ao vivo! Ney Matogrosso nos entrega com “Bloco na Rua” um evento memorável, com tudo que temos direito, rocks, baladas, sambas, swing… Enfim, o melhor da música brasileira.
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Mary Up Fotos