Nesta terça-feira (07), Porto Alegre recebeu o show do lendário vocalista e baixista, Glenn Hughes. A apresentação contou exclusivamente com canções da época em que o músico fazia parte da banda Deep Purple. O evento aconteceu no Bar Opinião, com produção da Ablaze Productions.
Com a pontualidade britânica, Glenn e sua banda subiram ao palco às 21h, no exato horário marcado para começar o show. “Stormbringer”, música que abre e dá título ao nono álbum de estúdio do Deep Purple, é a escolhida para abertura. O público que lotava o Bar Opinião já entra no clima logo nos primeiros acordes.
O público que lotava o opinião era em sua maioria acima de trinta anos e muitos acima dos sessenta. O que comprova a qualidade do trabalho de Glenn. Mesmo após quase cinco décadas de sua passagem pelo Purple, ainda mantém a fidelidade de fãs de um país tão distante.
A noite segue e a introdução de teclado dá o tom para “Might Just Take Your Life”. Apesar da empolgação, tanto da banda quanto do público, o som do baixo apresenta instabilidade, que por vezes parece embolado, por vezes desaparece. Glenn gesticula com os técnicos, que começam a tentar ajustar enquanto o show segue rolando. Depois de algumas tentativas as coisas voltam a funcionar.
E a vez da guitarra puxar o público com o riff de “Sail Away”, que ligeiramente atende e canta junto com Glenn. A levada cadenciada da música traz a tona todo o embalo dos anos 1970. A banda, que além de Glenn, conta com Bob Fridzema (teclado), Søren Andersen (guitarra) e Ash Sheehan (bateria) é muito afiada e super competente.
Seguindo a ordem, agora é a vez de Ash e seu instrumento chamarem a próxima música, “You Fool No One”. Andamento rápido e batucada com cowbell, faz a cama para o baixo (agora sim, bem audível e regulado) brilhar. A música se estende na parte instrumental e também abre espaço para o teclados, finalizando com um solo de guitarra de Andersen. É só o início do medley que também inclui o belíssimo blues “High Ball Shooter”. E aqui, infelizmente o microfone de Gleen para de funcionar por algum tempo, quase que toda a parte cantada do trecho da música que entrou no medley, que logo volta para “You Fool No One”.
A banda então deixa o palco e apenas Ash segue para começar seu solo de bateria. O músico em sua performance brinca com o público, joga algumas baquetas, investe em um samba (?!), faz uma espécie de malabarismo, enfia uma baqueta no nariz. Enfim, estava bem entusiasmado, alternando ritmos e mexendo com os presentes. Mas talvez seu solo tenha sido um pouquinho maior que o necessário. Logo isso se explica.
A banda volta, Glenn agradece a presença de todos, apresenta os músicos, que são reverenciados. Então o dono da noite explica que acabou pegando um gripe no dia anterior, e precisou decidir se cancelava o show ou se tentava fazer a apresentação, mesmo doente. Em tradução livre, Glenn diz “Vocês (fãs) são muito importantes em minha vida. Mesmo em tempos difíceis eu procuro sorrir, porque vocês estão aqui comigo. Eu não poderia cancelar esse show, não! Eu amo vocês, então cantem comigo, ok?! Eu amo vocês, me deixem provar isso“.
Então o músico anuncia a próxima canção, diretamente do clássico álbum “Burn” e pede mais uma vez que o público cante com ele, que o público seja a sua voz, e a guitarra começa “Mistreated”. Não é preciso dizer que todos os presentes atendem o pedido de Glenn e começam a cantar juntos.
Devemos destacar, não só o profissionalismo, mas a paixão que Glenn Hughes tem pela música e por seus fãs. Este senhor de 72 anos, com mais de cinquenta de carreira, com muitos problemas com vícios em outras épocas, ainda viaja o mundo cantando como um garoto. Mesmo doente, mesmo gripado, estava ali, empunhando seu contrabaixo, como um maestro para sua banda e para seus fãs, soltando seus agudos poderosos.
Em certo momento eu cheguei e me questionar: Como ele consegue cantar daquela forma, na idade quem tem e estando gripado? Claro, o delay e reverb em seu microfone ajudava, mas não é a toa que o homem carrega a alcunha “The Voice of Rock“. Muitos cantores mais jovens que ele, não conseguem nem chegar perto do que Glenn ainda faz. Infelizmente para os fãs do Paraná, que receberia a tour na noite seguinte, a gripe piorou e foi preciso cancelar o show em Curitiba.
Voltando para o concerto desta noite, Glenn agradece emocionando “Obrigado por entenderem! Eu não poderia cancelar esse show! Eu amo muito vocês! Obrigado por suas vozes! Porque minha voz é sua voz! Obrigado Porto Alegre!“
Então com seu baixo com efeito wah wah anuncia que a próxima música foi composta com seu “irmão”, Tommy Bolin, e começam “Gettin’ Tighter”, do álbum “Come Taste the Band”, de 1975. O público delira e no fim, o cantor reverencia Tommy e também Jon Lord, ex-integrantes do Deep Purple, já falecidos. “Ainda me parte o coração não ter mais meus amigos comigo, tocando algumas músicas.“
O show está chegando ao fim. Você pode até pensar: Mas até aqui foram apenas seis músicas?!. No entanto, como era costuma para o Deep Purple e outras bandas da década de 1970, essas canções ao vivo ganhavam versões instrumentais alongadas (até aqui a apresentação já tinha passado de 1h20). E nesta noite o espírito era esse, ainda mais com o cantor gripado. A banda então começa “You Keep On Moving”, cantada por todos os presentes.
Me emocionou ver, na mesma fileira que a minha, uns quatro metros para a direita, um senhor com cabelos (já ralos) e bigode completamente brancos, óculos de grau, com aquela cordinha que fica para trás. Ele deveria ter mais de 70 anos e cantou essa música praticamente inteira. Fiquei observando, pensando e torcendo para que eu chegue nessa fase da vida com a mesma paixão pela música que o senhor demonstrava. Ali a idade não pesava, o corpo não reclamava, era como se existisse só ele e o som. Com certeza deve ser um fã de Glenn e do Purple desde a época que essas músicas estavam sendo lançadas, e ainda estava ali. Curtindo e se divertindo!
A banda agradece e se despede. Mas ninguém vai embora. Todos sabem que ainda falta pelo menos uma canção, aquela que tem um riff destruidor, que abre e dá nome ao álbum que não deixou o Deep Purple morrer em 1974, que marca o começo da formação Mk III. Essa mesmo. Estou falando de “Burn”! Ela é cantada por todos no Bar Opinião, com Glenn já no sacrifício, mas com toda a vontade do mundo, apenas intervindo no microfone em alguns agudos estratégicos. Tudo bem Glenn, deixa com a gente!
E assim acabou essa noite mágica para os fãs. A “Highway Star” que antecede a fase de Glenn no Purple, mas que vinha rolando em alguns shows dessa tour, acabou ficando de fora. Com certeza a plateia entendeu. Todos viram o esforço do Mr. Hughes, sem falar na humildade e carisma que demonstrava ao tempo todo. O cantor agradeceu a presença de todos diversas vezes, e agora nós agradecemos e desejamos melhoras. Com certeza estaremos prontos para um próximo encontro!
The Voice of Rock, We salute you!
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