No último domingo (21), Porto Alegre presenciou o que, até o momento, é o mais próximo de uma reunião da formação clássica dos Engenheiros do Hawaii. O guitarrista Augusto Licks e o baterista Carlos Maltz subiram ao palco do Bar Opinião, acompanhados pela banda tributo Engenheiros sem CREA, para uma apresentação especial e emocionante. O evento foi uma realização da Abstratti Produtora.
Ás 20h em ponto, Augustinho, Maltz, Sandro Trindade (voz e baixo) e Jeff Gomes (guitarra e violão) iniciam a noite histórica. “Toda Forma de Poder” é a música escolhida para a abertura. Curiosamente sua gravação original não conta com Licks na guitarra. Ela está presente no primeiro álbum do grupo, “Longe Demais das Capitais”, gravada por Humberto Gessinger (voz e guitarra), Carlos Maltz (bateria) e Marcelo Pitz (baixo). Augusto entra para a banda em 1987 na gravação do segundo álbum, “A Revolta dos Dândis”, com Pitz deixando o grupo e Gessinger assumindo o baixo. Então no show a música foi executada semelhante a versão do ao vivo “Alívio Imediato”, de 1989.
“Variações sobre um mesmo tema” é a próxima, e mesmo não sendo um dos clássicos da banda, os fãs que encheram o Bar Opinião cantavam a plenos pulmões. Destaque para a parte final da canção, em que Licks assume os vocais e canta como quem declama uma poesia. Claro, encerra ovacionado pelo público.
E como é bom ver Augusto Licks no palco, empunhando sua guitarra Steinberger e com um sorriso no rosto. Augustinho é um gênio, um músico muito acima da média, inventivo e autoral. Desde a sua saída conturbada dos Engenheiros, pouco se soube de suas atividades, voltando a se apresentar em pequenos eventos apenas nos últimos anos.
Diferente de Carlos Maltz, que manteve musicalmente ativo, com a banda Irmandade, carreira solo e participações especiais em momentos importantes da trajetória dos Engenheiros (Acústico MTV e Novos Horizontes), além do DVD “Ao Vivo pra Caramba – A Revolta dos Dândis 30 anos”, da carreira solo de Humberto Gessinger.
Em outras ocasiões distintas, Licks e Maltz já haviam feitos aparições em shows dos Engenheiros sem CREA. Mas essa é a primeira vez em 30 anos que os dois estão juntos no palco. Eles creditam ao Sandro Trindade, como o grande responsável por essa reunião.
E falando em Sandro, nos primeiros instantes percebemos que o músico é um grande fã dos Engenheiros. A ponto de trazer seu timbre de voz muito perto de Humberto, além de tirar as linhas de baixo e teclado praticamente iguais as originais. Jeff Gomes também não fica para trás, executando muito bem as suas partes de guitarra e violão. O destaque fica para a interação de Licks e Jeff. Algo difícil de imaginar antes dessa noite, já que Licks não teve companheiros de instrumento em seu tempo nos Engenheiros.
Voltando ao setlist do show, a terceira da noite é “A Revolta dos Dândis I”, clássico absoluto que foi entoada por todos os presentes. Em seguida vem “Canibal Vegetariano devora Planta Carnívora”, música presente no derradeiro álbum de estúdio da formação clássica, “Gessinger, Licks e Maltz”, de 1992. Do disco “Várias Variáreis” vem “Muros e Grades”, voltando do disco anterior com “Ninguém = Ninguém”.
A essa altura do show, começa uma enxurrada de clássicos de uma das maiores bandas da história Rock Nacional. “Somos Quem Podemos Ser”, “Terra de Gigantes”, “Pra ser Sincero” e “Refrão de Bolero” emocionam todos os presentes. Para essas canções mais calmas, Sandro assumi o teclado, transformando o clima do Opinião em algo muito mais intimista.
Voltando ao peso, “Alívio Imediato” é a próxima. Ela funciona como um clamor, cantada por todos. Com arranjo clássico, cheirando a anos 80, “Nau a Deriva” dá sequência ao show. Grande parte dos presentes, são pessoas mais velhas, que acompanharam a formação GLM em sua época áurea. E podemos perceber a satisfação nos rostos e nos olhares.
O clima esquenta ainda mais com “Ando Só”, “Exército de um Homem Só, I”, e os mega hits “O Papa é Pop” e “Era um Garoto que como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones”. Mas a noite está chegando ao fim. A banda se despede dos fãs e deixa o palco.
Ninguém está pronto para ir embora e logo os gritos de “mais uma” começam a ganhar mais vozes e encher o ambiente. O quarteto volta em seguida e começa “Herdeiro de um Pampa Pobre”, hino gaúcho composto por Gaúcho da Fronteira e Vaine Darde. É muito difícil alguém que nasceu e cresceu no Rio Grande do Sul não se emocionar com essa obra, tão atual como na época de seu lançamento. E a emoção não para, pois a próxima é “Piano Bar”. Caramba, que música!
Para encerrar de vez essa noite de celebração, vem ela… um ode a vida na estrada, aquela música que talvez seja a primeira que você lembre quando fala em Engenheiros do Hawaii. Estou falando de “Infinita Highway”, em que a banda e o público canta juntos do início ao fim.
Foi uma noite histórica! E talvez seja o mais próximo que chegamos de uma reunião do trio GLM. Pois Humberto Gessinger segue firme e forte em sua carreira solo e já demonstrou não ter interesse em reunir a formação clássica. Mas, se conseguimos ver os Titãs se reunindo para uma tour especial, e acabamos de presenciar Augusto Licks e Carlos Maltz juntos após 30 anos, também podemos nos permitir sonhar.
Se não acontecer, essa noite já valeu! Quem sabe esse show especial pode ser tornar uma tour completa, ou até mesmo um evento anual. Seria demais!
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