No último sábado (22), o auditório Araújo Vianna recebeu o Festival Recomeço, capitaneado pela banda Fresno com o projeto RSNASCE. O evento reuniu grandes nomes da música produzida no Rio Grande do Sul. A arrecadação foi destinada ao auxílio de trabalhadores do setor da cultura, que foram duramente afetados pelas enchentes que atingiram o estado.
Com o local completamente lotado, era por volta das 20h quando a primeira atração sobe ao palco, o comediante Marcito Castro. Foi um show curto, de apenas dez minutos, mas o suficiente para arrancar risadas de todos os presentes. O artista, que também teve sua família atingida pela tragédia, é extremamente talentoso e encerrou sob intensos aplausos.
Eis que os donos da noite chegam, já com alguns de seus convidados. O trio da banda Fresno deveria fazer um show solo neste data, para divulgar o recém lançado disco “Eu Nunca Fui Embora”. Mas, demonstrando muita empatia e solidariedade, resolveu adiar sua noite solo para reunir uma seleção de craques com o intuito de ajudar o próximo. Os guris começam a parte musical com duas músicas do seu set, “Redenção” e “Porto Alegre”, extremamente apropriadas e representativas para iniciar essa noite.
Então, Lucas Silveira anuncia o primeiro convidado da noite, ninguém menos que um dos maiores músicos do Rock Nacional, Humberto Gessinger. O alemão chega com seu violão, acompanhado por Felipe Rotta, e já começam com “Herdeiro da Pampa Pobre”, com letra que encaixa perfeitamente com o momento que o estado passa. A próxima é “Até o Fim”, seguida por “Toda Forma de Poder”, com ênfase na parte letra que fala “…E o fascismo é fascinante deixa a gente ignorante cada vez mais ignorante…”. Humberto sai ovacionado. Nada mais justo.
Neste clima intenso que o segundo convidado é chamado, a voz da Bidê ou Balde, Carlinhos Carneiro. O cantor e seu enorme carisma fazem todos cantarem juntos o grande hit “Melissa”, dividindo os vocais com Lucas, seguida pela belíssima “Mesmo que Mude”.
Antes da música seguir, Lucas chama Glainá Boucinha que está na linha de frente com a Resgate +, uma Organização Audiovisual da Sociedade Civil, que presta ajuda aos atingidos pela enchente. Eles ressaltam a importância do evento e das pessoas que seguem doando e se voluntariando para estancar as necessidades de quem ainda precisa muito.
Então chega a vez de chamar a segunda metade do duo Pouca Vocal, Duca Leindecker, para nos emocionar com suas belas letras e melodias. “Pinhal”, “Dia Especial” e encerrando com “O Amanhã Colorido”. Mais um grande momento de uma noite que ainda estava só começando.
Lucas anuncia que, além de grandes nomes, eles também acreditam que deveria usar esse evento para dar mais visibilidade aos novos artistas. É o caso da próxima atração, 50 Tons de Pretas. E que grata surpresa! Dejeane Arruee e Graziela Pires chegaram com tudo, com a grande e forte canção “Cota não é Esmola”. Em seguida vem a linda “Oracíon”, com participação especial de Alexsandra Amaral e Neuro Júnior. Vale muito a pena conhecer mais o trabalho da 50 Tons de Pretas.
Neuro fica no palco para acompanhar o próximo convidado, a lenda Renato Borghetti. Para acompanhá-los, Pedro, filho de Renato, também sobe ao palco. O trio executa com maestria suas peças, com tanta emoção que o público entoa entre os espaços o grito “Ah! Eu sou Gaúcho!”. Assistir Borghetinho ao vivo é mágico!
Após esse espetáculo, Lucas chama Márcio Callage, co-fundador do Instituto RSNASCE e do 20barra9. Márcio falou de seu movimento para arrecadar donativos convertidos em colchões, roupas e mais de 30 mil marmitas.
Voltando para a música, mais uma artista da nova geração, Viridiana. A musicista apresenta a canções “Menina” e “Saga”. Com interpretação bem intimista e cheia de personalidade, também mostrou seu talento e sua verdade sob aplauso dos presentes.
A noite segue e o próximo convidado é o vocalista da Comunidade Nin-Jistu, Mano Changes, que ao lado do pessoal do Fresno mandou “Quero Te Levar”, uma improvável versão acústica de “Detetive” e com os pedidos de mais uma, um medley com trechos de clássicos da Comunidade.
Rafa Machado, ex-vocalista da banda Chimarruts, é o próximo e traz aquele clima sereno do Reggae com as músicas “Iemanjá” e “Chapéu de Palha”. A plateia entra no embalo e canta junto esses dois clássicos. Mais um artista que sai do palco ovacionado e com pedidos de mais uma.
Sem deixar a poeira baixar, chega a vez de outro grande cantor da música pop gaúcha, Serginho Moah. O vocalista do Papas da Língua presenteia o público com “Um dia de Sol” e “Eu sei”. Mais duas canções que marcaram a vida de muitos, através das ondas das FMs do estado.
O desfile de clássicos ainda não acabou. Pois, o próximo convidado tem um dos timbres mais marcantes do Rock do Brasil, Duda Calvin. O vocalista da Tequila Baby, que no momento está em carreira solo, chega com a energia de sempre e canta a plenos pulmões os clássicos “Sexo, Algemas e Cinta-liga”, “Menina Linda” e “Velhas Fotos”. Nessa altura a impressão era que estávamos de volta ao fim dos anos 1990 início dos anos 2000, a segunda era dourada do Rock e Pop Gaúcho.
Teve até espaço para um grande “FORA MELO! FORA MELO!”. Singela “homenagem” do público ao prefeito da cidade, que se mostrou, no mínimo, incompetente e inoperante diante dessa situação.
Mas voltando a falar em era dourada, o maior nome do Hard Rock dos Pampas também estava representado. Jacques Maciel, vocalista e guitarrista da Rosa Tattooada é o próximo. Chega a vez do hino “O Inferno vai ter que Esperar”. Todos cantam juntos com Jacques. O cantor informa que vai quebrar o protocolo, trocando a próxima música para homenagear outra grande banda gaúcha, que por motivos de agenda, não pode estar presente. Então começa o dedilhado de “Você vai lembrar de Mim”, clássico do Nenhum de Nós, para delírio do público.
E na sequência de clássicos, chega a vez de Nei Van Soria, cantor, compositor, guitarrista e membro fundador da maior de todas as bandas, Os Cascavelletes. A primeira é “Tempo e Paciência”, seguida pelo maior hit de sua carreira solo, “Jardim Inglês”, e para encerrar, o maior hino de rock já feito nesta terra, “Sob Um Céu de Blues”. Nessa hora, o Araújo Vianna veio abaixo! O telão mostra fãs com camisetas do Jupter Maçã (RIP), todos aplaudem, muitos emocionados.
Depois desse momento mágico, Lucas chama ao palco Felipe Boito, amigo de infância e um dos voluntários que estão na linha de frente pelos bairros da Zona Norte de Porto Alegre. Ele conseguiu arrecadar mais de 400 mil reais, que se converteram em água, comida, combustível, roupas e colchões. Neste momento Lucas não contém as lágrimas aos falar da coragem do amigo.
Os gritos do “FORA MELO! FORA MELO!” voltam mais fortes!
Para dar sequência na parte musical, vem o vocalista Peppe Joe e o guitarrista Felipe Chagas, representando a Maria do Relento. As músicas escolhidas para a noite são “Giramundo” e “Conhece o Mario?”, que trazem aquele leveza “5ª série” para a noite.
Mais dois gigantes do Rock Gaúcho chegam ao palco, o guitarrista Tavinho Fumagalli e Alemão Ronaldo, da Bandaliera. Os hinos “Me Leva pra Casa” e “Campo Minado” são executadas pela dupla. O cantor não se contém sentado com violão no colo, logo fica em pé na frente da plateia. Eis que Rafael Malenotti invade o palco para cantar junto o refrão. A curiosidade é que Tavinho é tio de Vavo, guitarrista da Fresno. Uma família com músicos que fazem parte de duas bandas gigantes do Rock Gaúcho.
Lucas e a Fresno tomam a frente mais uma vez para tocarem “Eu Sou a Maré Viva”, em que todos cantam juntos até o fim. A banda ainda emenda um trecho da clássica “Vento Negro”, antes de anunciar o próximo convidado, o guitarrista e vocalista da TNT e Tenente Cascavel, Tchê Gomes.
Tchê puxa o riff de “Não Sei”, quando recebe um bolo de feliz aniversário em pleno palco. Até rola um “parabéns pra você” antes da música começar. Malenotti e Nei Van Soria aparecem para cantar juntos no refrão. O trio ainda fica junto para tocar e cantar “A Irmã do Dr. Robert”.
Nei e Tchê Gomes se despedem, mas Malenotti fica. Ele é o comandante para as próximas músicas. Enquanto espera seu violão, o cantor pega emprestado o instrumento do Lucas para fazer um trechinho de “É Preciso Saber Viver”. Dos Acústicos e Valvulados são tocadas “Fim de Tarde Com Você” e, para animar a galera, “Até a Hora de Parar”.
A instituição da música gaúcha, Os Fagundes, representados irmãos Neto, Ernesto e Paulinho, entoam os hinos “Origens” e “Canto Alegretense”. A expressão máxima da cultura gauchesca. Uma ode ao amor do povo por sua terra, tantas vezes (e mais uma vez) posto a prova, como nesta tragédia que nos assola.
Em seguida, um pouco do espírito do Punk Rock d’Os Replicantes com a vocalista Julia Barth. Com ela rola o clássico “Surfista Calhorda”, com um trechinho modificado para alfinetar nosso “querido” prefeito. A próxima é aquele som clássico do Jupter Maça, “Um Lugar do Caralho”, uma justa homenagem ao mestre.
Ainda teve tempo para os guris da Dingo (anteriormente conhecida como Dingo Bells) apresentarem as músicas “Dinossauros” e “Eu Vim Passear”. Na sequência vem Andrio, da Superguides, com participação especial de Frank Jorge, para tocar a música “Malevolosidade”, com um trecho de “Microondas” da Bidê ou Balde no meio, muito bem encaixada.
A Fresno assume o protagonismo novamente para executar “Casa Assombrada”, antes de arrebentar o resto da cordas do violão do Lucas. Então chega a hora de chamar novamente e agora como atração principal, um dos baluartes do Rock Gaúcho, Frank Jorge. O músico vem acompanhado dos Paysanos para as músicas “Nunca Diga” e o hino dos roqueiros gaúchos, “Amigo Punk”. Neste momento acontece uma invasão de todos os artistas para encerrar o festival de forma apoteótica.
Com certeza, a Fresno merece todo o respeito e carinho de todos que curtem, trabalham ou atuam de alguma forma no cenário musical gaúcho, seja em cima dos palcos, nos bastidores ou como público. Foi uma linda realização em parceria com a Opinião Produtora, Rádio Atlântida, Music Box Brasil e PodPah.
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Mary Up Fotos