Mais uma vez acordamos com a notícia de uma morte prematura dentro da música. Chris Cornell com certeza não será o último. O mais triste é o fato de se tratar de um suicídio. Especialmente dentro do Rock as mortes por suicídio e overdose sempre estiveram presentes. Ainda existe certa glamourização sobre o assunto. Muitas pessoas acham que permanecer em tristeza e angústia infinita faz parte do life style Rock and Roll, mas a realidade bate muito mais forte do que as imagens em preto e branco dos videoclipes.
Muito se ouve falar por aí que grandes gênios da arte transitavam entre a loucura e a lucidez, e vimos também como as manchetes podem ser cruéis com quem sofre com problemas de caráter mental (será que já esquecemos como Amy Winehouse era retratada?).
Eu realmente acredito que a sensibilidade para as artes em geral traz consigo a insatisfação de se viver em um mundo quadrado. É a válvula de escape das coisas certas nos lugares certos. O mundo é o mundo, o que pode se fazer a não ser apelar para a arte? Os problemas começam quando a insatisfação só aumenta e a arte não dá mais conta. Então aparece outro problema… O quanto quem consome a arte realmente entende a mensagem do artista?
Será que não negligenciamos pedidos de ajuda escritos em letras de canções, em performances de palco, em poesias, em quadros pintados, em uma simples fotografia, em esquetes de humor, ou em comportamentos destrutivos noticiados incessantemente?
Até que ponto beber, fumar, cheirar, injetar, atirar na própria cabeça ou amarrar uma corda no pescoço é só golpe de marketing para vender mais discos? Para vender mais shows?
O que faz um pai de filhos pequenos tirar a própria vida? Covardia? Como podemos julgar alguém que não quer mais viver sem entender profundamente o desespero de sua alma?!
Bom, não temos como conhecer o desespero da alma de alguém que nem sequer mora no mesmo país que nós. Mas será que olhamos em volta e enxergamos o desespero de alguém próximo? Não temos tempo para isso, vamos perder a novela, vamos perder o replay do gol, vamos perder a atualização de status nas redes sociais, vamos perder a chance de gritar mais alto na briga por política ou religião… Vamos perder alguém, e depois vamos chorar e falar coisas boas sobre esse alguém. Vamos fingir que não vimos os sinais e vamos sentir a dor que o remorso traz.
Não interessa quem tem razão, se existe reencarnação, inferno e céu. O que realmente interessa é a maneira que se trata quem está do seu lado, seja artista ou não. A depressão não escolhe cor, credo ou classe social, ataca qualquer um e causa uma devastação quase que silenciosa. Então estejamos mais atentos aos sinais, porque aproveitar os momentos reais ainda vale mais a pena que lembranças do que foi perdido.